Desenvolver software internamente ou por terceirização?
Autores: Moacir Rodrigues Sanglard Jr. e Luiz Flávio Autran Monteiro, ambos das
Faculdades IBMEC
Fonte: Revista de Administração FACES (http://www.revistafaces.fumec.br/), volume
3, número 1, janeiro/junho 2004 – Universidade FUMEC/FACE
O artigo traz um estudo de caso real, de empresa de telecomunicações, onde “surge a dúvida em relação a quais projetos devem ser desenvolvidos com equipe interna, pois projetos críticos que possam colocar uma empresa em posição de vanguarda e representem vantagem competitiva devem responder a requisitos de garantia de sigilo, qualidade e prazo, dentre outros, que podem não ser totalmente atendidos com a terceirização.”
Entretanto, o foco do artigo não é mostrar qual a melhor solução, nem do ponto de vista genérico, nem do ponto de vista da empresa estudada, mas sim demonstrar a eficiência de métodos de APOIO À DECISÃO na resolução da questão proposta, de maneira rápida e prática.
O método de apoio à decisão escolhido é o AHP – Analytic Hierarchy Process, um dos primeiros métodos dedicado ao ambiente de decisões multicritério, criado na Walton School of Business pelo professor Thomas L. Saaty.
Inicialmente, é feita uma revisão bibliográfica, tanto em relação ao desenvolvimento de software e à terceirização em si, quanto em relação aos pontos positivos e críticas na utilização do método AHP.
Sobre terceirização (outsourcing), pontos interessantes a seguir.
A favor da terceirização, temos:
“A missão de nossa organização não é desenvolver softwares. Vamos focar em nossos negócios e deixar o desenvolvimento de softwares com os especialistas. Organizações cujo objetivo é desenvolver soluções de TI tendem a possuir pessoal mais capacitado, processos mais maduros, e produzir melhores soluções de tecnologia. O software está se trasformando, cada vez mais, em uma commodity.” Segundo alguns autores, a redução de custos é o primeiro fator motivador da terceirização.
Contra a terceirização, temos:
“(...) necessidade de investimento em alguns processos internos antes de terceirizar seu desenvolvimento, (...) caráter abstrato [do software] que dificulta bastante a tarefa de consubstanciá-lo em algo mensurável. (...) (...) dificuldade em se manter sigilo sobre o sistema e se evitar o reaproveitamento do software construído, ou mesmo da idéia, pelos concorrentes.”
Assim, “(...) é essencial à organização possuir uma adequada gestão de requisitos do software, de modo a poder cobrar a qualidade deste com base no solicitado formalmente.”
A coleta de dados do estudo partiu de uma entrevista com o objetivo de comprovar a aplicação ou não de algum método formal de apoio à decisão, análise de documentação dos requisitos do software, e aplicação do método AHP, em dois momentos distintos (um para identificação e julgamento de CRITÉRIOS e ALTERNATIVAS e outro para análise de ordenação de alternativas, análise de sensibilidade, questões associadas à dinâmica do AHP).
O método AHP foi aplicado com o auxílio do software ExpertChoice.
Os critérios adotados foram diferencial de mercado e sigilo, qualidade, recursos humanos e custo, com três alternativas possíveis: desenvolvimento interno, terceirização ou um misto dos dois.
Um resumo da análise de resultados:
- falta de cultura da empresa em relação à métodos formais de apoio à decisão;
- a ordem de alternativas apontadas pelo método foi: 1) desenvolvimento interno; 2) terceirização; 3) misto.
- a decisão da empresa antes da aplicação do método havia sido para a terceirização;
Um resumo das conclusões e recomendações:
- executivos não praticam nenhum método de apoio à decisão;
- esses têm a impressão equivocada de que a aplicação não é prática nem rápida;
- foi a primeira que o agente de decisão da empresa teve contato com um método formal de apoio à decisão, e avaliou que superou as expectativas, “ampliando o conhecimento sobre o problema e estimulando discussões até então não pensadas”.
- o estudo demonstra como a aplicação de um método de apoio à decisão, mesmo quando alvo de muitas críticas, pode ser fundamental para APRIMORAR O ENTENDIMENTO DE UM PROBLEMA;
- o AHP adequou-se bem às características do problema proposto no estudo, mas isso não é garantia que terá a mesma eficiência para problemas futuros;
- cada abordagem tem pontos positivos e negativos, o que justificaria uma utilização conjunta de métodos diferentes na solução de um mesmo problema;